sexta-feira, 10 de setembro de 2010

amém

eu agradeço todos os dias quando meus pais respeitaram minha vontade. tinha 6 anos quando cheguei a conclusão que odiava a escola de saia de pregas e brasão, odiava aquelas meninas loiras e bonitas, que cresceram pra ficar mais loiras e menos tudo. mamãe encarou a ideia da escola pública como uma boa "atividade antropológica". crescer num pé de morro fez eu conhecer pessoas de verdade, com problemas de verdade. acredito que a maioria não conseguiu chegar (chegar no sentido mais literal da palavra) até aqui porque não os deixaram. mas os que ficaram comigo são as pessoas mais incríveis (de não acreditar mesmo, com o perdão do superlativo) que poderia conhecer.

a lara que na segunda série me pediu para ensiná-la a conta de menos, porque ela não entendia pra quem se pedia emprestado. o robson que virou meu gêmeo univitelino por convivência e com quem vi meu primeiro filme preto e branco. a jandy que é filha de um coreano que lutou no vietnã (mas seu ki-tak bang não se foi por causa da guerra). a morgana que já pequena teve que virar mulher (ela sabe). o rocha que com 9 anos já amava a gal.

a casa dele tinha uma escada em espiral no meio da sala, mas só tinha um andar. minhas melhores virtude vieram disso, com certeza.
sempre quando falam em luta de classes, a única coisa que consigo pensar é na sétima A disputando a gincana de são joão com a oitava B.
uma nostalgia estúpida legitima muita coisa, na realidade, quase tudo. mas não isso, porque essas pessoas continuando sendo, por isso não tenho saudades, nem saudosismo. só gratidão.

fiquei sabendo que nossa bibliotecária, dona carmem, continua virgem.

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