quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

ouié


Parece que há uma saída exatamente aqui onde eu pensava que todos os caminhos terminavam. Uma saída de vida. Em pequenos passos, apesar da batucada. Parece querer deixar rastros. Oh yeah parece deixar. Agora que você chegou não preciso mais me roubar. E como farei com os versos que escrevi?

(isso é porque tenho um amor, mas estou com saudades)

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

ai



porque tão difícil assim?

continuo terrivelmente com medo.
e perdida.

'é muito mais fácil matar um fantasma do que matar uma realidade'. v.w.

Felicidade e alegria




Ser alegre (muito melhor do que ser feliz) é gostar de viver mesmo quando a vida nos castiga


QUANDO EU era criança ou adolescente, pensava que a felicidade só chegaria quando eu fosse adulto, ou seja, autônomo, respeitado e reconhecido pelos outros como dono exclusivo do meu nariz.

Contrariando essa minha previsão, alguns adultos me diziam que eu precisava aproveitar bastante minha infância ou adolescência para ser feliz, pois, uma vez chegado à idade adulta, eu constataria que a vida era feita de obrigações, renúncias, decepções e duro labor.

Por sorte, 1) meus pais nunca disseram nada disso; eles deixaram a tarefa de articular essas inanidades a amigos, parentes ou pedagogos desavisados; 2) graças a esse silêncio dos meus pais, pude decretar o seguinte: os adultos que afirmavam que a infância era o único tempo feliz da vida deviam ser, fundamentalmente, hipócritas; 3) com isso, evitei uma depressão profunda pois, uma vez que a infância e a adolescência, que eu estava vivendo, não eram paraíso algum (nunca são), qual esperança me sobraria se eu acreditasse que a vida adulta seria fundamentalmente uma decepção?

Cheguei à conclusão de que, ao longo da vida, nossa ideia da felicidade muda: 1) quando a gente é criança ou adolescente, a felicidade é algo que será possível no futuro, na idade adulta; 2) quando a gente é adulto, a felicidade é algo que já se foi: a lembrança idealizada (e falsa) da infância e da adolescência como épocas felizes.

Em suma, a felicidade é uma quimera que seria sempre própria de uma outra época da vida - que ainda não chegou ou que já passou.

No filme de Arnaldo Jabor, "A Suprema Felicidade", que está em cartaz atualmente, o avô (extraordinário Marco Nanini) confia ao neto que a felicidade não existe e acrescenta que, na vida, é possível, no máximo, ser alegre.

Claro, concordo com o avô do filme. E há mais: para aproveitar a vida, o que importa é a alegria, muito mais do que a felicidade. Então, o que é a alegria?

Ser alegre não significa necessariamente ser brincalhão. Nada contra ter a piada pronta, mas a alegria é muito mais do que isso: ser alegre é gostar de viver mesmo quando as coisas não dão certo ou quando a vida nos castiga. É possível, aliás, ser alegre até na tristeza ou no luto, da mesma forma que, uma vez que somos obrigados a sentar à mesa diante de pratos que não são nossos preferidos ou dos quais não gostamos, é melhor saboreá-los do que tragá-los com pressa e sem mastigar. Melhor, digo, porque a riqueza da experiência compensa seu caráter eventualmente penoso.

Essa alegria, de longe preferível à felicidade, é reconhecível sobretudo no exercício da memória, quando olhamos para trás e narramos nossa vida para quem quiser ouvir ou para nós mesmos. Alguém perguntará: é reconhecível como?

Pois é, para quem consegue ser alegre, a lembrança do passado sempre tem um encanto que justifica a vida. Tento explicar melhor.

Para que nossa vida se justifique, não é preciso narrar o passado de forma que ele dê sentido à existência. Não é preciso que cada evento da vida prepare o seguinte. Tampouco é preciso que o desfecho final seja sublime (descobri a penicilina, solucionei o problema do Oriente Médio, mereci o Paraíso).

Para justificar a vida, bastam as experiências (agradáveis ou não) que a vida nos proporciona, à condição que a gente se autorize a vivê-las plenamente.

Ora, nossa alegria encanta o mundo, justamente, porque ela enxerga e nos permite sentir o que há de extraordinário na vida de cada dia, como ela é.

É óbvio que não consegui explicar o que são a alegria e o encanto da vida. Talvez eles possam apenas ser mostrados: procure-os em "Amarcord" (1973), de Federico Fellini, em "Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas" (2003), de Tim Burton ou no filme de Jabor. "A Suprema Felicidade" me comoveu por isto, por ter a sabedoria terna de quem vive com alegria e, portanto, no encantamento.

Segundo Max Weber (1864-1920), a racionalidade do mundo industrial teria acabado com o encanto do mundo. Ultimamente, bruxos, vampiros, lobisomens, deuses e espíritos andam por aí (e pelas telas de cinema); aparentemente, eles nos ajudam a reencantar o mundo.

Ótimo, mas, para reencantar o mundo, não precisamos de intervenções sobrenaturais. Para reencantar o mundo, é suficiente descobrir que o verdadeiro encanto da vida é a vida mesmo.



contardo calligaris pra folha.


por favor, não quero virar dessas pessoas que a única época boa da vida é a faculdade, que ficam choramingando pra sempre de um tempo que na verdade mal lembram.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

querida carla bruni:

Eu já gostei muito de você.

Você é linda, chique e educada. Canta bem, apesar do problema de todas as cantoras francesas que acham que sussurrar na língua nativa é o suficiente. Ficou pelada e continuou chique, isso de fato é um mérito. Mas, hoje, você faz o caminho inverso do que toda mulher tenta fazer. Acata as opiniões de um marido xenófobo, de uma linhagem tradicional na França - infelizmente - de políticas racistas de anti-imigração (que todos sabemos, é suicídio político). E
, acima de tudo, é um homem de caráter questionável.

Nem sei se acata, porque você nem se pronuncia. Acho ligeiramente fascista a ideia de que uma figura pública tem uma missão eterna para com o povo, mas acho também absurdamente inconsequente negar que as pessoas se inspiram em você. Ninguém está pedindo militância da sua parte, inclusive porque as mulheres falharam em questões de micro políticas, como esta.

É quando o não falar já quer dizer muita coisa.
Que pena, ainda se carrega a cruz de toda a mulher bonita que se torna alegórica.



(só resolvi publicar esse texto, depois de ler esse e notar que as mulheres concordavam. a carla bruni é apenas um exemplo disso.)

domingo, 26 de dezembro de 2010

sem nome


Em vez de destruir a flor, de esmigalhá-la num furor agora já adiado, ela tem é uma vontade de agarrá-la com tal força, numa fúria total de apreensão e posse, que quase o faz, na compulsão do instante, antecipando aquela cor vivaz manchando os dedos de luxúria suave, mas, ao mesmo tempo, temendo a física ferida dos espinhos. Recoloca a flor no copo e tem ali, lado a lado, a garrafa transparente, quase como vazia, e o copo cuja líquida limpidez se tingia, de súbito, de uma sofreguidão dourada. Tudo isso era o mundo concentrado naquele ponto, sem mais apelos, a demandar sentidos. De repente, ela treme com uma febre. Do umbigo da sensação, lhe vinha algo que vibrava quente, estabanado, abrindo, involuntariamente, os poros de seu corpo, e um calor se adiantava nos músculos ainda inertes, mas quase trêmulos em seu ardor velado, que anunciava alguma coisa que não tinha nome.





renato tapado.

né?


quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

caixas de todos os tipos

Quando em 1895, Eleanor Marx relembrou sua vida com seu pai, ela escreveu:


"Das muitas fábulas que Mouro me contou, a mais maravilhosa, a mais deliciosa foi a de 'Hans Rockle'. Ela durou meses, era uma série inteira de histórias... O próprio Hans Rockle era um mágico tipo Hoffmann que tinha uma loja de brinquedos e que estava sempre 'duro'. Sua loja estava cheia das coisas mais maravilhosas - homens e mulheres de madeira, gigantes e anões, reis e rainhas, servos e mestres, animais e pássaros tão numerosos quantos os que entraram na Arca de Noé, mesas e cadeiras, carruagens, caixas de todos os tipos e tamanhos. Embora ele fosse mágico, Hans nunca conseguia cumprir suas obrigações seja para com o demônio seja para com o açougueiro, e era portanto - muito contra a sua vontade - constantemente obrigado a vender seus brinquedos para o diabo. Esses brinquedos passavam, pois, por maravilhosas aventuras, terminando, sempre, por retornar à loja de Hans Rockle"



eleanor marx era filha de karl marx. imagina as histórias que ele contou pra essa menina.
essa foi a época que ele mais precisou penhorar seus bens domésticos como jóias, talheres, roupas e provavelmente brinquedos.
o casaco de marx - roupas, memória e dor - petter stalybrass

ano velho

1 - A insustentável leveza do ser (Milan Kundera)
2 - Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres (Clarice Lispector)
3 - Uma espiã na casa do amor (Anais Nin)
4 - Memória de minhas putas tristes (Gabriel Garcia Bernal)
5 - O efeito urano (Fernanda Young)
6 - O apanhador no campo de centeio (JD Salinger) 
7 - O convidado surpresa (Gregorie Bouilleir)
8 - A metamorfose (Franz Kafka)
9 - O hotel atlântico (João Gilberto Noll)
10 - Padre Sérgio (Liev Tolstói)
11 - Retrato de Dorian Gray (Oscar Wilde)
12 - 234 (Dalton Trevisan)
13 - O cavaleiro inexistente (Italo Calvino)
14 - Esconderijos do tempo (Mário Quintana)
15 - Contos de Belkin (Aleksander Pushkin)
16 - O casaco de Marx - Roupas, memória e dor (Petter Stalybrass)
17 - Maus (Art Spiegelman)
18 - Macanudo n1 (Liniers)

esses foram os livros lidos em 2010.  alguns por obrigação, outros por prazer e outros poucos por tédio (que foi o caso da fernanda young,  um presente pra um amigo, mas a conexão do voo foi em porto alegre. uma viagem que era pra ser de 1 hora durou 5).

 as decepções foram gabriel garcia bernal e gregorie bouilleir (banhado no ego e oportunismo esse último). os favoritos foram kafka, calvino, salinger (que por coincidência, terminei o livro no dia que o escritor morreu) e stalybrass. a suspresa foi maus, o melhor quadrinho do mundo.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

But I'm losing my edge to better-looking people with better ideas and more talent.

Yeah, I'm losing my edge.
I'm losing my edge.
The kids are coming up from behind.
I'm losing my edge.
I'm losing my edge to the kids from France and from London.
But I was there.

I was there in 1968.
I was there at the first Can show in Cologne.
I'm losing my edge.
I'm losing my edge to the kids whose footsteps I hear when they get on the decks.
I'm losing my edge to the Internet seekers who can tell me every member of every good group from 1962 to 1978.
I'm losing my edge.

To all the kids in Tokyo and Berlin.
I'm losing my edge to the art-school Brooklynites in little jackets and borrowed nostalgia for the unremembered eighties.

But I'm losing my edge.
I'm losing my edge, but I was there.
I was there.
But I was there.

I'm losing my edge.
I'm losing my edge.
I can hear the footsteps every night on the decks.
But I was there.
I was there in 1974 at the first Suicide practices in a loft in New York City.
I was working on the organ sounds with much patience.
I was there when Captain Beefheart started up his first band.
I told him, "Don't do it that way. You'll never make a dime."
I was there.
I was the first guy playing Daft Punk to the rock kids.
I played it at CBGB's.
Everybody thought I was crazy.
We all know.
I was there.
I was there.
I've never been wrong.

I used to work in the record store.
I had everything before anyone.
I was there in the Paradise Garage DJ booth with Larry Levan.
I was there in Jamaica during the great sound clashes.
I woke up naked on the beach in Ibiza in 1988.

But I'm losing my edge to better-looking people with better ideas and more talent.
And they're actually really, really nice.

I'm losing my edge.

I heard you have a compilation of every good song ever done by anybody. Every great song by the Beach Boys. All the underground hits. All the Modern Lovers tracks. I heard you have a vinyl of every Niagra record on German import. I heard that you have a white label of every seminal Detroit techno hit - 1985, '86, '87. I heard that you have a CD compilation of every good '60s cut and another box set from the '70s.

I hear you're buying a synthesizer and an arpeggiator and are throwing your computer out the window because you want to make something real. You want to make a Yaz record.

I hear that you and your band have sold your guitars and bought turntables.
I hear that you and your band have sold your turntables and bought guitars.

I hear everybody that you know is more relevant than everybody that I know.

But have you seen my records? This Heat, Pere Ubu, Outsiders, Nation of Ulysses, Mars, The Trojans, The Black Dice, Todd Terry, the Germs, Section 25, Althea and Donna, Sexual Harrassment, a-ha, Pere Ubu, Dorothy Ashby, PIL, the Fania All-Stars, the Bar-Kays, the Human League, the Normal, Lou Reed, Scott Walker, Monks, Niagra,

Joy Division, Lower 48, the Association, Sun Ra,
Scientists, Royal Trux, 10cc,

Eric B. and Rakim, Index, Basic Channel, Soulsonic Force ("just hit me"!), Juan Atkins, David Axelrod, Electric Prunes, Gil! Scott! Heron!, the Slits, Faust, Mantronix, Pharaoh Sanders and the Fire Engines, the Swans, the Soft Cell, the Sonics, the Sonics, the Sonics, the Sonics.

You don't know what you really want.



LCD Soundsystem - Losing My Edge






melhor letra de música e auto-ironia do mundo. beijo pra todos os indies

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

vamos



preguicinha

heartbreaking


Björk escreveu uma música em homenagem ao amigo e estilista Alexander McQueen, que morreu em fevereiro deste ano. A faixa é trilha do filme To Lee, With Love, Nick, curta-metragem dirigido pelo fotógrafo Nick Knight que mostra as criações mais famosas de McQueen em moldes caleidoscópicos. A informação é do site do jornal britânico The Independent.

Vale lembrar que foi o designer quem fez a capa de Homogenic, de 1997, um dos discos de Björk. Ele também dirigiu para a cantora islandesa o videoclipe de "Alarm Call".




nota da rolling stone brasil

my addiction to the worst of him