sábado, 12 de fevereiro de 2011

a garota de treze anos

'soubemos como dói o vento frio do inverno entrando debaixo da saia, como é sofrido manter os joelhos juntos na sala de aula, e como é monótono e irritante ter que pular corda enquanto os meninos jogam beisebol. nunca conseguimos entender por que as meninas faziam questão de ser maduras, nem por que sentiam tanta necessidade de elogiar umas às outras, mas às vezes, depois de um de nós ter lido em voz alta um longo trecho do diário, tínhamos que combater o desejo de nos abraçar ou de dizer uns aos outros como éramos bonitos. sentimos o aprisionamento que é ser uma garota, e como isso torna a mente ativa e sonhadora, e como a gente acaba sabendo quais as cores que combinam entre si. soubemos que as garotas são nossas gêmeas, que existíamos todos no espaço como animais de idêntica pele, e que elas sabiam tudo a nosso respeito embora nós não soubéssemos nada delas. soubemos, afinal, que as garotas são na realidade mulheres disfarçadas que compreendem o amor até mesmo a morte, e que a nossa tarefa era apenas gerar barulho que parecia fasciná-las. 


à medida que o diário avançava, cecília começa a se afastar das irmãs e, na realidade, de qualquer tipo de narrativa pessoal. a primeira pessoa do singular desaparece quase por completo, num efeito semelhante ao da câmera que se afasta das personagens no fim do filme, para mostrar, em uma sequência de fusões, suas casas, ruas, cidade, o país e finalmente o planeta, diminuindo-os progressivamente até a anulação. sua prosa prematura volta-se para assuntos impessoais, o comercial de um índio lamentoso remando em sua canoa ao longo de uma riacho poluído, ou a contagem dos mortos da guerra da tarde. na última parte do diário mostra a alternância de dois estados de espírito. nas passagens românticas, cecília se desespera pela extinção dos nossos olmos. nos momentos cínicos sugere que as árvores absolutamente não estão doentes, e que o desflorestamento não passa de um complô 'para arrasar tudo'. aparecem às vezes referências a uma ou outra teoria da conspiração - os iluminatti, o complexo militar/industrial - mas ela apenas ameaça enveredar por uma direção, como se os nomes fossem, eles também poluentes químicos. das invectivas, desliza novamente, sem interrupção, para seus sonhos poéticos. dois versos sobre o verão, de um poema que ela nunca acabou, nos pareceu muito bonito:


as árvores como pulmões enchiam-se de ar
minha irmã, a perversa, puxava meus cabelos






as virgens suicidas - jeffrey eugenides

2 comentários:

  1. tão bonito, mas tão bonito, que entristece.

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  2. Tão bonito que entristece mesmo. Leitura não recomendada pra uma cabeça cheia de cachaça as duas da manhã, devia ter aguardado até de manhãzinha...

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